sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Crônica de Veríssimo que fala sobre "sua" crítica ao BBB:

       "Aquilo que não é meu!"


Se a prova fotográfica não vale mais nada nestes novos tempos inconfiáveis, a assinatura muito menos; ‘E se esta crônica não for minha?!’

Tenha paciência, este parágrafo começa com Leon Trotski mas acaba nas peladas da “Playboy”. Quando Trotski caiu em desgraça na união Soviética sua imagem foi literalmente apagada de fotografias dos líderes da revolucionária do conceito de fotografia: além de tirar o retrato de alguém tornou-se possível tirar alguém do retrato.  A técnica usada para eliminar o Trotski das fotos foi quase tão grosseira – comparada com o que se faz hoje – quando a técnica usada para eliminar o Trotski em pessoa (um picaretaço, a mando do Stalin). Hoje não só se apaga como se acrescenta pessoas ou se altera suas feições, sua idade e sua quantidade de cabelo e de roupa, em qualquer imagem gravada. A frase “prova fotográfica” foi desmoralizada para sempre, agora que você pode provar qualquer coisa fotograficamente. Existe até uma técnica para retocar imagem em movimento, e atrizes preocupadas com suas rugas ou manchas não precisam mais carregar na maquiagem convencional – sua maquiagem é feita eletronicamente, no ar. Nossas atrizes rejuvenescem  a olhos vistos  a cada novela. E quem posa nua para a “Playboy” ou similar não precisa mais encolher a barriga ou tentar esconder suas imperfeições.
O “fotoxópi” faz isso por ela. O “fotoxópi” é um revisor da Natureza. Lembro quando não existia “fotoxópi” e recorriam à pistola, um burrifador à pressão de tinta, para retocar as imagens. Nas “Playboys” antigas a pistola era usada principalmente para esconder os pelos pubianos das moças, que desapareciam como se nunca tivessem estado ali, como o Trotski. Imagino que a pistola tenha se juntado à Rolleiflex no sótão da História.
Se a prova fotográfica não vale mais nada nestes novos tempos inconfiáveis, a assinatura muito menos. Textos assinados pela Martha Medeiros, pelo Jabor, por mim e por outros, e até pelo Jorge Luís Borges, que nenhum de nós escreveu – a não ser que o Borges esteja mandando matéria da sua biblioteca sideral sem que a gente saiba – rolam na internet, e não se pode fazer nada a respeito a não ser negar a autoria – ou aceitar os elogios, se for  o caso. Agora mesmo está circulando um texto atacando o “Big Brother Brasil”, com a minha assinatura, que não é meu. Isso tem se repetido tanto que já começo a me olhar no espelho todas as manhãs com alguma desconfiança. Este cara sou eu mesmo? E se eu estiver fazendo a barba e escovando os dentes de um impostor, de um eu apócrifo? E – meu Deus – se esta crônica não for minha e sim dele?!
                                                                                                                                                                                                                                    VERÍSSIMO, Luis Fernando. Aquilo que não é meu. Jornal O Vale. São José dos Campos. 30 de janeiro de 2011.

Um comentário:

  1. Mais uma ótima obra de Fernando Veríssimo, ainda mais na parte que fala do BBB, ele mesmo ironiza a história toda!bem postado! bisous mon amour

    ResponderExcluir